Poesia Livre Título: Corredor XXI Autoria: Pr. Reginaldo Alves Dos Santos
Correndo, o despertador encerrou, o zíper subiu – “Ai! Perdi a hora!” Correndo, o café entornou – “desculpe moço! Aguarde, vou buscar um pano.” Correndo, um segundo fez falta – “Ei, você não olha por onde anda?” Correndo, a mão não foi vista nem a prece ouvida – “... Mas Deus te abençoe assim mesmo.”
Correndo, foi esquecido o que se procurava.
Correndo, ao que foi achado não se deu valor.
Correndo, o velório mostrou-se demorado.
Correndo, até para a dor mais profunda poucas e vazias foram as palavras.
Correndo, a música já não tocou como antes. Correndo, a brisa da primavera somente desgrenhou o cabelo. Correndo, nenhuma paisagem fez parar o carro. Correndo, se fez duro em lugar de forte.
Correndo, minha Pérola virou-se em Dn. Maria.
Correndo, tudo se justificou pela correria.
Correndo, filhos e netos, ilustres desconhecidos.
Correndo, nada restou aos que mais afirmou amar.
Correndo, da doença só aprendeu a preocupação com o futuro.
Correndo, diz: correrei ainda mais, antes que não haja mais tempo para correr.
Correndo, foi-se a juventude, as pessoas e o bom senso.
Correndo, não seu deu conta que toda estrada tem limite.
Correndo, obrigou-se a parar depressa.
Correndo, jamais conheceu o Deus que encarnou para salvar ao que nele espera.
Correndo, morreu, partindo para o lugar onde não há obra alguma.